Motor Mania: o monstro escondido em cada um de nós
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Motor Mania: o monstro escondido em cada um de nós

Atualizado: 29 de jul. de 2020

O ano era 1930 e Walt Disney lançava, em 30 de junho, uma animação chamada Motor Mania que contava a história de dois personagens interpretados, se assim podemos dizer, pelo Pateta: o simpático e pacato Mr. Walker que, quando assume o volante de seu V8 se transforma no beligerante «demônio piloto» Mr. Wheeler, um motorista irritadíssimo que passa a violar todas as leis de trânsito, nessa paródia automobilística do clássico «O Médico e o Monstro» (Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde), escrito em 1886 pelo escocês Robert Louis Stevenson.


O mais simpático do desenho, em sua versão original, é que logo na primeira batida em que Mr. Wheeler, de ré, arranca o para-choques de outro veículo, ele é questionado se é dono da estrada, ao que o narrador nos afirma que sim. Ele se vê como proprietário de todas as vias, como um bom pagador de impostos, e isso lhe dá o direito de violar todas as regras de trânsito ou de, no mínimo, ser um estorvo para os demais motoristas da via.


E, então você pode estar se perguntando o porquê de mencionarmos essa animação bacaninha dos estúdios Disney.


A verdade é que tudo surgiu de um assunto comentado hoje em um grupo de WhatsApp que criei há alguns anos, quando iniciei, com meus amigos André e Felipe, a marca FKPS Custom. Esse final de semana, um grupo de proprietários de Harleys do Vale do Paraíba fez um passeio até Campos do Jordão, subindo a estrada Floriano Rodrigues Pinheiro (SP 123) em toda sua extensão e sofreu com interferência de outros tipos de veículos, incluindo ciclistas desportivos que trafegavam bem acima do limite da rodovia, na descida, e ainda invadiam a pista de rolagem.


Ainda no universo das motos, num passeio agradável que a redação do Portal Gasolina fez semana passada, com amigos, à região da Rodovia dos Tamoios (SP 99), famosa por seus radares de 80km/h e 60km/h em vários trechos (o que impediu minha Harley de rodar de 6ª marcha) encontramos de tudo. Cruzamos com outras Harleys, numa formação de comboio, pequeno, de um moto clube de Guarulhos (SP); diversas Big Trail acelerando forte, como se soubessem onde os radares ficavam; alguns pilotos de motos Speed nos costurando quase à velocidade de dobra da USS Enterprise e grupos de motos com cilindrada menor, mas que alcançam velocidades perigosas na pista e tinham a terrível mania de se meter no meio do comboio das custons.


As dúvidas que sobressaem ao assistir a crítica do Sr. Walt Disney de 1930 (mas, que permanece mais atual do que nunca) são: existe a possibilidade de haver harmonia no trânsito? Ou essa harmonia é quebrada pelo comportamento de Mr. Hyde (ou Mr. Wheeler, da animação) no momento em que cada um assume o controle da máquina de transporte que o conduz?


É preciso o comboio de moto Custom rodar a 60km/h na pista da esquerda? O piloto de Speed tem que, ao ultrapassar um grupo de motos, «costurar» a formação de comboio, arriscando um choque e um tombo (ou coisa pior)? O ciclista precisa acelerar mais que os veículos que têm preferência na estrada e invadir a faixa de rolamento? Os carros, ao ultrapassarem, precisam jogar a moto no acostamento? Os caminhões, rodando a 60km/h numa rodovia de 120km/h, precisam sair imediatamente para ultrapassar o colega que está a 59,5km/h sem esperar o veículo que vinha anunciando a ultrapassagem com o dobro da velocidade logo atrás? Isso tudo, sem ainda mencionar os diversos veículos motorizados que circulam nas estradas sem a mínima segurança, em virtude da idade ou da falta de manutenção.


As respostas são tão diversas quanto a individualidade de cada sujeito da espécie humana. Cada Mr. Wheeler (e sou um deles) vai defender prioritariamente seu viés e sua «tribo», por assim dizer. E, estudando o próprio Código de Trânsito, tentando fazer uma exegese, uma interpretação que possibilite organizar o trânsito, percebemos que a letra da lei, ainda que possa ser forçada através de de multas e outras punições, está longe de realmente reger o comportamento humano nas estradas.


Em conclusão, a estrada é um local que, de prazeiroso pode se tornar perigoso, como mostra o fim da animação de 1930 em que o Pateta termina o dia sendo guinchado após uma colisão (nos desenhos animados geralmente não há mortes) e cabe a cada um, a cada motorista ou piloto, que faça do bom senso e da temperança o verdadeiro código de conduta na estrada.



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