Mais álcool na gasolina vai destruir sua moto?
- José Caetano

- 28 de ago.
- 4 min de leitura
Você já deve ter ouvido a notícia: desde 1º de agosto de 2025, a gasolina vendida nos postos brasileiros passou a ter 30% de etanol na mistura. É a chamada E30. O governo anunciou como um avanço, um passo verde em direção à sustentabilidade, com a promessa de que ninguém sentiria diferença. Mas quem pilota moto sabe que, na prática, as coisas não são tão simples assim.
E aqui não estamos falando só de performance. Estamos falando de vida útil do motor e de confiabilidade para quem depende da moto, seja para o trabalho, seja para aquele rolê de final de semana que é quase uma terapia.

A experiência lá fora
Não é a primeira vez que um país aumenta o teor de etanol na gasolina. Quando o Reino Unido decidiu migrar para a gasolina E10 (10% de etanol), o próprio governo britânico reconheceu que o novo combustível provocaria problemas em milhares de veículos. Estimativas oficiais apontavam que cerca de 600 mil carros rodando por lá poderiam apresentar falhas mecânicas sérias.

A seguradora Hagerty, referência mundial quando o assunto é carro e moto clássica, também alertou na época: etanol em excesso acelera a corrosão, deteriora vedações e aumenta o risco de falhas em motores mais antigos, que não foram projetados para rodar com tanto álcool. Veja no artigo que publicamos há alguns anos aqui.
Se com 10% já era assim, imagine agora com 30%. Tudo bem que, aqui no Brasil já usamos a gasolina E27, com 27,5% de etanol desde 2015 e muitos de nossos veículos já vieram adaptados para essa mistura doida de petróleo com cachaça, e pode ser que mais 2,5% não façam tanta diferença.
Por outro lado, pode ser que esses 2,5% sejam justamente a gota que faça o copo transbordar e só o tempo nos mostrará.
O impacto nas motos
Nas motos modernas, com injeção eletrônica flex, o sistema até consegue se ajustar, embora nem sempre da forma mais eficiente. Você vai notar aumento no consumo, possível perda de torque em baixa rotação e, em alguns casos, aquecimento acima do normal.
Nas motos mais antigas ou não flex, a situação é ainda pior: risco de corrosão de tanques, ressecamento de mangueiras, entupimento de carburadores e até danos em juntas e borrachas que não foram projetadas para conviver com tanto álcool.
Ou seja: a chance de dor de cabeça aumenta — e muito.
O problema maior: gasolina adulterada
Mas, se o E30 oficial já é preocupante, o verdadeiro pesadelo do motociclista no Brasil continua sendo a gasolina adulterada. O álcool em excesso pode até corroer lentamente o seu motor. Mas o solvente barato, o redutor de octanagem ou até mesmo a água misturada de forma criminosa fazem o estrago imediato.
E não é teoria conspiratória: hoje mesmo, em 28 de agosto de 2025, a Avenida Faria Lima, coração financeiro de São Paulo, amanheceu tomada por 1.400 agentes da Receita Federal, Polícia Federal, ANP e Ministério Público. Foi a chamada Operação Carbono Oculto, a maior já feita contra o crime organizado no setor de combustíveis. O alvo: um esquema bilionário de adulteração, fraude e lavagem de dinheiro que envolvia postos, distribuidoras e até grandes fundos de investimento.
Ou seja: se o posto onde você abastece não for de confiança, pouco importa se é E27 ou E30 — seu motor está em risco.
Na semana passada, por coincidência, eu abasteci minha Bonneville num determinado posto e minha esposa abasteceu seu carro no mesmo posto. Fomos para Campos do Jordão para gravar um vídeo para o meu canal Classic Man Ride e ambos veículos apresentaram falha e perda de potência no trecho de serra, justamente quando se pedia mais aceleração.
Seria combustível adulterado? Não sabemos, mas a verdade é que completamos o tanque em um posto Petrobrás idôneo em Campos do Jordão e a falha nos motores sumiu. Mas tudo pode ser só uma coincidência.
E o que fazer?
Infelizmente, não temos controle sobre a política de combustíveis. O que podemos fazer, como motociclistas, é:
Abastecer apenas em postos de confiança.
Desconfiar de preços muito abaixo da média.
Fazer manutenção preventiva no sistema de combustível: filtro, limpeza de bicos, verificação de mangueiras.
E, no caso de motos clássicas, considerar o uso de aditivos protetores ou até gasolina premium, que costuma ter controle mais rígido de qualidade.
Conclusão
Quando escrevi há alguns anos sobre os riscos do aumento de etanol na gasolina, parecia um problema distante. Hoje, ele está na bomba do posto mais próximo de você. E30 já é realidade.
Se para o governo é apenas uma estatística ambiental, para quem anda de moto é uma equação perigosa: mais etanol + combustível adulterado = motor comprometido.
No fim das contas, a lição é simples: cuide bem da gasolina que entra no tanque, porque é ela que vai determinar quantos quilômetros de estrada sua moto ainda tem para rodar.





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