A icônica frente "Springer"
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A icônica frente "Springer"

Atualizado: 10 de mar. de 2023

Se tem uma coisa que caracteriza sobremaneira uma motocicleta custom, é a suspensão dianteira «springer», com suas molas aparentes e aqueles braços articulados que garantem um subir e descer da frente da moto num movimento que só essa suspensão é capaz de reproduzir. E no último domingo, estivemos junto ao Ricardo Camacho, nosso piloto de caça e colunista dessa revista digital, no 16º Encontro de Springers e Motos Clássicas, tradicionalmente promovido pelo Balaios Moto Clube, em sua sede do ABC Paulista, na cidade de Santo André.


O que nós vimos foi um verdadeiro corredor polonês de frentes springers alinhadas lado a lado dos dois lados da Rua Xavier de Toledo, no centro daquela cidade. Sob um calor típico do verão brasileiro, verdadeiros ícones da engenharia da Casa de Milwaukee dividiam espaços com suas irmãs customizadas, que originalmente não tinham nascido com essa frente clássica.


Vale ressaltar que, ainda que algumas pessoas acreditem que o nome «springer» se refira à marca desse sistema de suspensão, na verdade, é seu design e engenharia que a fazem receber essa denominação. Ela não foi o primeiro tipo de suspensão dianteira criada para motocicletas, mas, certamente, é a mais famosa na primeira metade do século XX. Desde que surgiu, na década de 1930, esse tipo de suspensão ganhou popularidade por sua robustez e eficácia na pilotagem, em estradas que eram de terra em sua maioria.


Para nós, «entusiastas da Harley Davidson» – como diria Clay Morrow em algum dos episódios de Sons of Anarchy – as frentes springer fazem parte de nosso imaginário desde que nascemos, em se tratando de motos custom.


O importante que é esse modelo de suspensão, composto de longos braços que transferem os movimento de suspensão da roda dianteira para uma unidade com molas e amortecedores, que são montados na extremidade frontal superior do conjunto, é o que faz uma moto custom ter aquela cara de moto custom. Aliás, esse conjunto de molas (springs) externas é o que dá o nome à suspensão, como mencionado antes.


A Harley e suas Springers


Vamos desconsiderar aqui as motos mais antigas da Harley Davidson que utilizavam essa suspensão, porque era o padrão da montadora, mas a fábrica também produziu alguns modelos, por assim dizer, modernos, que vinham com essa suspensão dianteira, ainda que a grande maioria de suas motos já possuísse suspensão telescópica, com as molas embutidas em tubos, como é comum em quase todas as motos hoje em dia.


Podemos destacar aqui a série de Softails Springers lançadas nos anos 90 e que levavam os apelidos de «Old Boy» (FLSTS), «Bad Boy» (FXSTSB) ou simplesmente «Softail Springer» (FXSTS). Essa última, era basicamente uma Softail Custom, mas com uma frente springer toda cromada. Já a «Bad Boy», também era uma Softail, porém sua frente era predominante preta, só com a molas cromadas. Já a «Old Boy» era uma Heritage Springer, com bolsas laterais e banco de couro adornados com franjas.



Nos anos 2000, a Harley também lançou outra springer, baseada no chassi Softail, com um ar mais «bandido» que ficou conhecida como Cross Bones. Uma moto que traz em seu tanque e paralamas grafismos no estilo pinstripe, banco solo selim e uma frente springer semelhante à da Bad Boy (preta, só com as molas cromadas). Além disso, trazia um guidão seca-sovaco e rodas raiadas. Esse modelo, infelizmente, não veio para o Brasil formalmente.

Aliás, à título de curiosidade, a moto pilotada pelo Capitão América no primeiro filme dessa nova leva de películas da Marvel, «O Primeiro Vingador», era uma Cross Bones customizada para parecer uma legítima WLA1942 utilizada na Segunda Guerra que o Capitão utilizava em suas incursões atrás das linhas inimigas.


Na foto, o dublê do ator Chris Evans e sua WLA de mentirinha. Na verdade uma poderosa Cross Bones

Segurança e Dirigibilidade

Existe uma lei no mundo das motos custom que diz que o estilo é inversamente proporcional ao conforto e à segurança, mas acredito que no caso das frentes springer, essa lei não se aplica totalmente. Explico-me.


Em primeiro lugar, esse tipo de suspensão funcionou bem por muitos anos e mesmo nos anos 90 e 2000, com a engenharia automobilística tendo atingido padrões grandiosos, a Harley continuou lançando modelos equipados com elas, o que significa que ela atende bem os padrões de segurança mínimos da marca.



Por outro lado, ela tem um comportamento bem diferente das suspensões telescópicas e, em consequência disso, é preciso se adaptar ao estilo de pilotagem de uma moto com frente Springer. Contudo, o próprio estilo da moto, já leva seu usuário a pilotá-la com a intenção de curtir a viagem, ao invés de esticar o cabo até não poder mais.


(Aliás, a prudência editorial diria para não escrever isso, mas meu coraçãozinho me impulsiona a redigir: Harley não é moto pra correr, cazzo! Quer andar com o cabo esticado, compre uma moto esportiva. Pronto! Falei e saí correndo!)


Outro fator que vai contribuir diretamente na segurança da pilotagem e no conforto é a origem de sua frente Springer. Hoje, com a cultura da customização em alta, o mercado foi entupido de suspensões advindas de fabricantes de qualidade e critérios duvidosos, geralmente situados em países mais ao leste do planeta, que exportam coisas manufaturadas para o mundo todo, boas ou mortais.


No último Salão Duas Rodas que fui, antes dessa triste pandemia, havia um saguão inteiro do evento com stands de fábricas orientais com diversos componentes para motocicletas, incluindo várias frentes springer de diversos tamanhos para Harley Davidson. Eram esteticamente lindas, mas não sei se eram boas e o preço era muito inferior aos valores cobrados pelas frentes de marcas americanas já consagradas, como a própria Harley Davidson. Seria necessário submetê-las a testes de segurança antes de usá-las.


Portanto, se você pensa em customizar sua bike, adaptando uma dessas incríveis e estilosas suspensões, procure uma boa oficina ou até mesmo um bom construtor (no Brasil temos construtores excelentes que já fabricam essas frentes com muita qualidade). Certamente não será barato, mas é sua vida, ou pelo menos seus ossos, músculos e tendões que estão em jogo em cima da sua moto.


Por fim, acredito que seja isso que nos faz ser tão entusiastas dessa marca de motocicletas criada há mais de 100 anos em Milwaukee, justamente o fato de cada moto possuir um estilo e características que remetam ao gosto de seu dono. E é exatamente isso que define nosso estilo de moto como uma moto «custom».

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