Neste sábado passado, ensinando minha filha mais velha a pilotar uma moto, percebi que aquilo que era natural para nós aqui em casa, talvez não o fosse há algumas décadas, em que jamais um pai, em sua sã consciência, ensinaria sua filha, mulher, a pilotar um veículo típico de homens. Mas, a verdade é que a presença das mulheres motociclistas tem aumentado perceptivelmente nos últimos anos.
Ainda que seja difícil chegar a um número exato de mulheres que andam de moto no Brasil, a cifra de mulheres habilitadas ultrapassa 9 milhões, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo), um número que, de acordo com a mesma entidade, dobrou na última década.
Em 2012, as mulheres habilitadas para pilotar motos chegavam a 4,5 milhões. Já em 2022, esse número chegou a 8,9 milhões.
Esses dados se referem a mulheres com habilitação na categoria A, ou seja, que "podem" pilotar motos, ainda que isso não signifique que elas sejam realmente proprietárias de motos e pilotem normalmente.
Porém, a partir disso e dando uma olhada ao nosso redor, é sensível a presença maior das mulheres com motos nas ruas de nossas cidades. Isto é, fazendo-se uma análise científica, juntando os dados teóricos com a experiência empírica, temos uma conclusão concreta: as mulheres estão pilotando mais.
Mulheres com habilitação para pilotar motos já chegam a 24,5% do número total de habilitados no Brasil, em média. Porém, segundo a mesma matéria da Abraciclo, esse percentual varia de Estado para Estado.
Em Rondônia, por exemplo, as mulheres correspondem a 31,9% das pessoas habilitadas na categoria A. Santa Catarina vem em segundo lugar, com 27,6% e, por mais estranho que pareça, o Estado do Rio de Janeiro é o que tem o menor percentual de mulheres habilitadas na categoria A, com apenas 3,1%. Ainda que isso represente, no total, um número muito maior que os 31% de Rondônia.
Por que as mulheres estão pilotando mais?
Os motivos para o aumento das mulheres comandando o guidão são diversos, sendo o primeiro deles a moto como meio de transporte urbano. A praticidade das motos e scooters no trânsito é o que tem aumentado a procura das mulheres por esse tipo de transporte.
Porém, também podemos constatar uma tendência crescente de mulheres que optam pela moto como verdadeiro estilo de vida. Já é comum, de 10 anos para cá, vermos um crescente número de mulheres pilotando nas estradas, indo a encontros de motos ou, simplesmente, desfrutando daquele maior prazer que a motocicleta nos dá, a liberdade.
Mulheres nas pistas
Também temos que mencionar que, cada vez mais, vemos mulheres em competições de motos, um universo que até pouco tempo atrás era quase que exclusivo dos homens. Nós vimos isso pessoalmente na pista de arrancada, na Gump’s Drag Race - uma competição exclusiva para Harley Davidson - como também nas diversas pistas de flat track que visitamos nos últimos anos.
Falando com a pilota Edna Prado, ela nos lembrou de uma iniciativa da Royal Enfield, em 2021, que foi o Build Train Race (BTR), em que as meninas tinham que sujar suas mãos de graxa para customizar suas Royal Enfield, treinar e competir na pista de Flat Track, em que, por sinal, ela foi campeã.
Edna também nos informa que, de um ano para cá, a categoria Vini de flat track, surgida no Rodeo Lucky Friends, em Sorocaba (SP), composta por motos de baixa cilindrada, acabou se tornando exclusivamente feminina. (Aqui vale o parêntese: minhas filhas já estão doidas para correr nesta categoria)
No cenário internacional, já vemos mulheres competindo de igual para igual com os homens no Moto GP ou, até mesmo, na recém criada King of The Baggers, que ressuscita o quebra pau secular entre Indian e Harley Davidson, e onde encontramos a piloto Patricia Fernandez-West, tocando forte uma Road Glide super modificada para a competição.
Elas pilotam
A verdade é que, cada vez mais, não só no dia a dia das cidades, em que a moto é um meio de transporte ágil, econômico e prático, mas também em rolês que antes eram quase que exclusivamente masculinos, as mulheres têm garantido seu lugar, trazendo para o ambiente das motos aquela beleza que só elas conseguem ter.
Há alguns anos, inclusive, já começava a circular pelas redes sociais a hashtag #ELASPILOTAM, que surgiu em um movimento voltado para fomentar o respeito e incentivar as mulheres que curtem suas motos, buscando criar união e amizade entre elas.
No YouTube também você já consegue encontrar canais de mulheres pilotando suas motos e realizando aventuras que pouco marmanjo barbado teria coragem. Entre elas, talvez a mais conhecida seja a holandesa Noraly, do canal Itchy Boots, que acaba de voltar de um rolezinho de milhares de quilômetros pela África, interrompido por um tombo que lhe causou uma fratura na clavícula.
Se citarmos neste artigo todas as mulheres motociclistas (ou motoqueiras… o que desejarem) que conhecemos, certamente teríamos que fazer uma lista enorme, tentando não cometer nenhuma injustiça, por isso, deixamos aqui nosso cumprimento a todas elas, inclusive minhas filhas que já começam a trilhar as estradas em duas rodas e, logo logo, vão criar suas próprias aventuras.
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