Royal Enfield cresce no Brasil e conquista espaço no mercado mundial
- José Caetano

- 23 de set.
- 3 min de leitura
A cena motociclística brasileira ganhou uma protagonista improvável nos últimos anos. A Royal Enfield, marca indiana com raízes britânicas e mais de um século de história, deixou de ser curiosidade de nicho para ocupar espaço real nos números oficiais. O relatório da Fenabrave de agosto de 2025 mostra que a fabricante já acumula 19.513 emplacamentos no ano, o que representa 1,39% do mercado nacional de motos. Só no mês de agosto foram 2.815 unidades, consolidando a Royal Enfield entre as dez marcas mais registradas no país.
Esse crescimento ganha ainda mais força quando se observa a categoria em que a marca atua. O segmento de motos clássicas e customizadas, tradicionalmente limitado, é hoje dominado pela Royal Enfield. Modelos como a Hunter 350, com 4.842 unidades emplacadas no acumulado (23,57% da categoria), a Super Meteor 650, com 3.861 (18,80%), e a Meteor 350, com 3.153 (15,35%), ocupam o topo do ranking. É um desempenho expressivo em um mercado onde Honda e Yamaha ainda ditam as regras com folga — juntas, as duas gigantes somam mais de 60% dos emplacamentos.

Royal Enfield como porta de entrada no universo clássico
Um dos segredos desse avanço é o posicionamento da marca. A Royal Enfield oferece ao consumidor brasileiro aquilo que muitas vezes parecia inalcançável: uma moto com estética retrô, acabamento clássico e identidade forte, mas com preço de entrada acessível quando comparada a concorrentes tradicionais como Harley-Davidson e Triumph. Essa equação abriu as portas para um público jovem que deseja estilo sem comprometer o orçamento, ao mesmo tempo em que atrai veteranos em busca de uma alternativa mais simples e direta.
O resultado é um portfólio capaz de atender diferentes perfis. A Hunter 350 tornou-se queridinha urbana, prática e econômica. A Meteor e a Super Meteor 650 oferecem a experiência da estrada com visual atemporal. Já a Himalayan e a nova Shotgun reforçam a versatilidade e apontam para a expansão em segmentos como o trail e o neo-retro. A marca soube ler o mercado e oferecer variedade sem perder sua essência clássica.

O poder da comunidade e do estilo de vida
Mais do que motos, a Royal Enfield vende identidade. Os Riders Clubs espalhados pelo mundo, os encontros oficiais e a presença maciça em redes sociais mostram que a estratégia de marketing da marca vai além do showroom. Ao comprar uma moto, o cliente passa a integrar uma comunidade que valoriza a estrada, o convívio e a estética vintage. Esse vínculo cultural é reforçado por campanhas que destacam experiências de viagem, aventura e contemplação — um discurso que encontra eco em um público cada vez mais interessado em autenticidade.
Essa narrativa cultural se conecta ao movimento global de desaceleração. Em um mundo acelerado, a Royal Enfield oferece a oportunidade de rodar sem pressa, de transformar cada viagem em experiência. O conceito de “slow ride”, muito presente na filosofia da marca, traduz-se em liberdade vivida no detalhe, no som do motor e no vento na estrada.

Desafios e perspectivas para o futuro
Apesar dos avanços, o espaço da Royal Enfield no Brasil ainda é desafiador. Com pouco mais de 1% de participação de mercado, a marca depende da ampliação de sua rede de concessionárias, da garantia de disponibilidade de peças e do fortalecimento do pós-venda (ainda complicado) em regiões fora do eixo Sudeste.
Ainda assim, os dados deixam claro que a Royal Enfield encontrou terreno fértil no Brasil. Com modelos bem posicionados, comunidade ativa e apelo cultural cada vez mais forte, a marca britânico-indiana mostra que o clássico pode, sim, conquistar novos espaços em um mercado dominado por gigantes.





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