Norton Motorcycles: Do Legado Clássico ao Futuro Sem Alma?
- José Caetano

- há 34 minutos
- 3 min de leitura
A Norton Motorcycles, uma das joias da coroa do motociclismo britânico, voltou aos holofotes no EICMA 2025 com uma linha de modelos que deixam pouco espaço para a nostalgia. Fundada em 1898, a marca que outrora simbolizava o auge das motos clássicas inglesas, com suas linhas elegantes, motores paralelos e um ar de rebeldia de garagem, agora aposta em designs futuristas, com motores V4 potentes e silhuetas que mais parecem saídas de um filme de sci-fi.

Mas será que esse "ressurgimento" anunciado pela TVS Motor Company, sua proprietária indiana, não está sacrificando a alma da Norton em nome do mercado global? Muitos entusiastas, especialmente nos círculos britânicos, lamentam: onde foi parar o legado clássico?
Altos e Baixos da Norton
Para entender essa virada, vamos recapitular a turbulenta história da Norton, marcada por falências, revivals falhos e aquisições que mudaram seu rumo. A marca original enfrentou problemas financeiros crônicos ao longo do século XX, culminando em uma série de colapsos – há quem conte até 10 falências ao todo.
Nos anos 1970 e 1980, tentativas de modernização e fusões com outras marcas britânicas como a BSA não deram certo, levando ao fechamento definitivo em 1992 devido a dívidas acumuladas, competição feroz com japonesas como Honda e Yamaha, e uma incapacidade de inovar sem perder a identidade.
A primeira tentativa séria de reviver a marca veio em 2008, quando o empresário britânico Stuart Garner comprou os direitos da marca e relançou modelos como a Norton Commando 961, mantendo o estilo clássico com toques modernos. Parecia promissor: produção em Donington Hall, foco em traidição e até planos de expansão. Mas o sonho virou pesadelo.
Em 2020, a Norton entrou em concordata, afogada em dívidas de milhões de libras, impostos não pagos e um escândalo envolvendo fraudes em fundos de pensão de funcionários – Garner foi investigado por escândalo envolvendo fraudes em fundos de pensão de funcionários (totalizando cerca de £11-14M), deixando clientes sem suas motos já pagas e aposentados sem poupança. Foi o fim de uma era: a produção parou, e a marca parecia destinada ao museu.
Então veio a segunda tentativa de revivê-la, em 2020, quando a TVS Motor Company, gigante indiana de duas rodas, comprou a Norton por £16 milhões. A ideia era injetar capital – mais de £200 milhões até agora – para construir uma nova fábrica em Solihull, Inglaterra, e expandir globalmente.
Uma nova fase
Inicialmente, mantiveram modelos como a V4SV e a Commando 961, que ainda ecoavam o passado clássico. Mas, em 2025, a TVS anunciou o "Resurgence": parada na produção dos velhos favoritos para dar lugar a quatro novos modelos revelados no EICMA – Manx R (uma superbike V4 de 1200cc e 206hp), Manx (versão street), Atlas (adventure média) e a Atlas GT (touring).

Essas bikes priorizam design moderno, dinâmica de alta performance e detalhes high-tech, como suspensão semi-ativa e painéis de carbono, mas abandonam o visual retrô que definia a Norton.
A reação do público
E aí vem o lamento: em blogs e fóruns britânicos, a mudança é vista como uma traição ao legado. No Visordown, um dos principais sites de motos do Reino Unido, eles notam que "marcas tradicionais carregam bagagem: a expectativa é alta, e erros são menos tolerados", destacando como o público britânico é "ferozmente protetor" de marcas como a Norton. Já no Reddit e no X (antigo Twitter), fãs não poupam críticas: "Their new lineup is ugly as hell" (A nova coleção é feia pra cacete), diz um usuário sobre os novos designs.
Até a Forbes UK observa que os modelos antigos eram uma “mistura incoerente de modelos inspirados no legado e modernos que quase chegam lá”, mas a nova linha parece priorizar expansão em mercados como Índia e EUA, onde o clássico britânico pode não vender tanto quanto o futurista.
No BikeSocial (da Bennetts), o MD da TVS justifica: "Vimos a oportunidade de comprar a Norton e transformá-la em algo global", mas críticos argumentam que isso dilui a essência inglesa.
A verdade é que o novo design das motos da Norton soa como trocar um terno bespoke por um traje espacial – funcional, mas sem o mesmo charme.

No fim das contas, a Norton precisava mudar para sobreviver: o mercado de clássicas é um nicho (por mais que a Triumph e a Royal Enfield faturem alto nesse nicho), e com a TVS, eles planejam 200 concessionárias globais e produção de 8.000 unidades/ano.
Mas, para nós do Portal Gasolina, que celebramos o motociclismo clássico e o estilo de vida cruiser, isso soa como uma perda.





Comentários