Andar de moto melhora funções cognitivas? A ciência diz que sim.
- Zé Caetano
- 14 de jul.
- 3 min de leitura
Se você já leu nosso artigo “Andar de moto faz bem para a saúde” (leia aqui), sabe que o motociclismo não é só adrenalina, vento no rosto e paisagens no retrovisor. A relação entre homem e máquina vai além do prazer. A moto mexe com o corpo, com a alma — e, como mostra um estudo japonês, também com o cérebro.

Uma pesquisa realizada há mais de 10 anos pelo Smart Ageing International Research Center, da Universidade de Tohoku, em parceria com a Yamaha Motor Co., sob liderança de Ryuta Kawashima, revelou que andar de moto regularmente pode melhorar funções cognitivas de adultos saudáveis, especialmente aqueles que estão voltando a pilotar depois de anos afastados.
O estudo: motos, memória e mente afiada
O trabalho acompanhou 22 homens saudáveis, entre 42 e 56 anos, todos com carteira de moto e que haviam parado de pilotar por mais de 10 anos. Metade deles foi instruída a voltar a pilotar motos de médio porte (entre 225cc e 600cc) durante dois meses, integrando as motocicletas à rotina diária — indo trabalhar, saindo para o lazer.

A outra metade, o grupo de controle, manteve a vida como estava, sem moto envolvida.
Ao final do experimento, os pesquisadores aplicaram testes de cognição que medem desde memória e atenção até tempo de reação e percepção espacial. E o resultado surpreende: os motociclistas apresentaram melhora significativa na cognição visuoespacial, que é a capacidade do cérebro de entender, manipular e reagir ao espaço ao redor — algo essencial para quem pilota.
Além disso, ainda que sem significância estatística plena, os testes também sugeriram uma tendência de melhora na memória de trabalho e nas funções executivas, como o raciocínio rápido e a tomada de decisão.
Cérebro ativo, corpo em movimento
O estudo aponta que pilotar exige mais do que reflexo. É um exercício mental. A cada curva, o cérebro analisa distâncias, velocidades, condições do solo, comportamento dos outros veículos. O motociclista precisa reagir rapidamente a situações imprevistas, o que ativa áreas cerebrais ligadas à atenção, planejamento e percepção.
É como um jogo de xadrez em alta velocidade. Só que, no lugar de peças, temos cavalos de força.

O mais curioso: os autores da pesquisa também sugerem que o estresse físico e emocional controlado (o “frio na barriga” saudável de pilotar) pode aumentar os níveis de NGF — uma proteína ligada ao crescimento e manutenção dos neurônios. Em outras palavras, o risco calculado da pilotagem não só faz bem para a alma, como pode nutrir o cérebro.
Por que isso importa?
A idade média dos motociclistas está subindo. Cada vez mais vemos homens (e mulheres) entre 40 e 60 anos voltando a pilotar. Muitos reencontram na moto o prazer, a liberdade e — como agora sabemos — estímulos mentais valiosos para essa fase da vida.
Se você é um desses “returning riders” — como a pesquisa chama quem volta a pilotar depois de um hiato —, saiba que seu hobby pode ser mais do que diversão. Ele pode ser também uma forma de manter o cérebro afiado.
Conclusão
A ciência confirma o que o coração do motociclista já sabia: andar de moto faz bem. E agora temos mais uma razão para justificar aquela escapada de fim de semana ou o uso da moto no dia a dia.
Cuidar da mente também pode ser uma questão de colocar o capacete, girar a chave e seguir em frente.

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Fonte: Ryuta Kawashima et al. “Riding a Motorcycle Affects Cognitive Functions of Healthy Adults – A Preliminary Controlled Study”, International Journal of Automotive Engineering 5 (2014), pp. 73–76. Disponível aqui
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