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Foto do escritorZé Caetano

Um harleyro de Himalayan

O que faz um harleyro buscar uma Royal Enfield Himalayan para ser sua segunda moto? Por que uma moto com estilo e motorização tão diferentes das gigantes de Milwaukee tem alcançado seu espaço no coração de tantos fãs de motos grandes? Nessa matérias vamos tentar desvendar os mistérios dessa moto tão divertida, fabricada pela marca de médias cilindradas mais antiga ainda em funcionamento no mundo.


Não comecei a minha vida sobre duas rodas em cima de uma Harley Davidson, mas foi por uma década de distância somente, pois, menos de 10 anos antes que eu nascesse, minha mãe rodava em uma Harley Davidson Hydraglide com motor Panhead pelas estradas de terra aqui da minha região. Uma ousadia para ela, no final dos anos 60, que deve ter deixado uma marca indelével em sua epigenética, que acabei herdando.


A verdade é que, desde que me lembro por gente, sempre gostei das Harleys e tinha a meta de ter uma moto dessas para cair na estrada algum dia na minha vida, mas o começo de minha história em duas rodas se deu aos 11 anos numa Mobilette e, aos 16, mais ou menos, subi na lomba de uma Honda XL 125. Mas, por fim, consegui alcançar meu sonho, desafiado pelo saudoso amigo Adriano, e adquiri minha primeira Harley, depois de ter passado por Scooters, Viragos, entre outras coisas, e nos últimos 10 anos, só tenho pilotado HDs.


Mas, depois de rodar por todas as vias de asfalto num raio de 200km de minha casa e, claro, alguns destinos bem mais longe, sentia falta da versatilidade de poder pegar umas estradinhas mais rebuscadas. Por exemplo, em cima de minha Street Glide, por mais que a moto possa "conseguir" chegar em certos destinos, a possibilidade de quedas e manutenções provocadas faz com que certas aventuras fiquem de fora dos planejamentos.


Pense no desafio de passar por cima da pedra que há no meio da estrada que leva até o vilarejo de Trindade, em Paraty (RJ)... de Street Glide é pedir pro escapamento ficar no caminho. E, como todo mundo sabe, manutenção de Harley não é algo tão barato que valha a pena arriscar a brincadeira.


Comecei, dessa forma, buscar uma moto para o dia a dia e que me desse as possibilidades Off Road que minha Street Glide não me oferece e várias opções surgiram, só que nenhuma me agradava realmente. BMW é muito legal, mas é cara e visada pela galera do mal. A Triumph também. Olhei as japonesas e as europeias e naquele meio de carenagens plásticas coloridas, nada me apeteceu, mas daí apareceu a Himalayan, com seu design diferentão e com suas 411 cilindradas.

A "Imbalaia", nossa Royal Enfield Himalayan 411cc 2019

Uma moto indiana, com DNA inglês, vinda de uma das mais antigas fabricantes de motocicletas da terra e com a promessa de subir as estradas incrivelmente zoadas da mais alta cordilheira do mundo, da qual ela herda o nome, aliás.


Fui lá na Royal Enfield Vale, em São José dos Campos, concessionária da tradicional casa de Enfield para ver de perto essa "adventure" que tem feito a cabeça de muita gente e, de cara, já me encantei com jeitão retrô.


A Himalayan, como todas as outras motos da montadora indiana trazem linhas atemporais, clássicas. A Interceptor e a Continental GT, ambas de 650 cilindradas e até mesmo a Meteor 350cc, trazem claramente a influência do design britânico original, até mesmo no acabamento. Já a Himalayan (e sua versão "scrambler" recém lançada, a Scram 411) foi desenhada pensando nas estradas de terra e em trajetos em que o asfalto não é tão lisinho como nas highways americanas.


Entre as adventures, a Himalayan tem a vantagem de não ser uma moto tão pesada. Talvez, mais pesada que as japonesas cuja cavalaria do motor se assemelha, mas não tão pesada a ponto de torná-la uma moto lerda. Seu motor de 411cc e seu câmbio de 5 marchas permitem um bom desempenho no off road e uma velocidade de cruzeiro razoável nas rodovias. Dá pra rodar tranquilamente entre 90 e 100 km/h sem forçar muito o motor.


Aliás, o site da marca indiana atesta que a Himalayan é uma moto com duplo propósito. É feita tanto para estradas quanto para "não estradas".


Apesar delas possuírem freio ABS, é possível desativá-lo para encarar uma pista de terra e seu conjunto de suspensão se mostrou bem agradável, mesmo em pistas bem esburacadas, que já teriam quebrado alguma parte vital da Harley.


Minha experiência foi bem interessante. Quando peguei a moto na concessionária, havia quase 28 anos que não pilotava uma moto mais bicicletona desse jeito e fiquei meio durão nos primeiros minutos (lembrem-se que pilotava uma XL125 aos 16 anos). A posição de pilotagem obviamente é muito diferente de uma moto custom. Na Himalayan, como em toda moto adventure, você se senta com os pés bem embaixo de você, enquanto que nas Harleys, os pés ficam à frente do corpo do piloto. E, elas são altas, bem mais altas que uma moto custom.


Vencido o incômodo pessoal causado pela falta de costume, ao rodar com a moto no trânsito de uma grande cidade sem nem mesmo um rolezinho pelo quarteirão, deu pra perceber que a Himalayan tem um assento original bem confortável e é muito fácil pilotar essa magrelona nas ruas da cidade. Depois dessa adaptação inicial, veio a estrada, a moderna Carvalho Pinto, que liga a capital São Paulo a Taubaté. Aí foi um tédio só. Numa rodovia desse naipe, vazia, é tedioso ficar rodando a 90 ou 100km/h, quando o limite da estrada é 120km/h e o desenho da pista permite você rodar nessa velocidade tranquilamente. Especialmente quando você está num trecho que já conhece como se fosse a palma de sua mão. Nenhuma paisagem nova.


Por outro lado, bastou eu chegar nas redondezas da minha casa e cair em estradinhas apertadas e de baixa velocidade que todo o segredo da Himalayan se abriu para mim. Que moto divertida! Esqueçam os buracos, as lombadinhas de tijolinhos amarelos, as terrinhas e pedrinhas da pista. A moto engole tudo isso tranquilamente e a pilotagem é esperta, ágil, fácil.


É pra isso que essa moto foi feita! Para estradinhas vicinais, pistas alternativas, de baixa velocidade, para curtir a paisagem. É aquela moto que você pega pra ir até aquela cachoeira que está logo ali, depois daquele sítio, mas que de Harley seria uma missão dolorosa e, em muitos casos, custosa.


Pilotar uma Harley é seriamente divertido, é emocionante, poderoso, forte, mas pilotar a Himalayan também é divertido, mas com outro viés. É outra área do cérebro que é ativada, se é que estou conseguindo me fazer entender. Acredito que qualquer rolê de moto adventure seja assim, com essa sensação de desbravamento, de busca.


Certa vez, outro saudoso amigo, muito mais sábio e santo do que muita gente que já conheci nessa vida, me disse que eu tinha o olhar de um "buscador", de alguém que sempre está em busca de algo, em busca de descobrir alguma coisa bela e verdadeira. Quando ele me descrevera daquele jeito, eu compreendi o que eu era e o porquê de tanta coisa que eu já havia feito na vida, mesmo em tão pouco tempo.


Portanto, para um "buscador" como eu, sempre querendo conhecer o desconhecido, a Himalayan, com seu design interessantíssimo veio bem a calhar. Só que isso gera um problema. Agora, quando olho pra garagem, fico na dúvida de qual moto vai me trazer aquele sorriso dentro do capacete que todos nós buscamos quando subimos nas duas rodas. Antes, minha busca se resumia a locais em que outros já haviam desbravado e construído uma infraestrutura básica de asfalto. Agora, posso buscar em quase todo lugar que eu quiser. Bom... não importa... o que importa é nunca perder a vontade de buscar.


Assista no link abaixo o primeiro vídeo que gravei em cima da minha Himalayan, que já ganhou o apelido de Imbalaia, em homenagem ao lugar mágico e incrível descoberto por minha filha, Manuela, quando tinha 3 ou 4 anos de idade, que fica "allá" (mostra o céu, apontando com seu pequeno indicador), cujas forças da lei são os "puciliais" e é habitada por grandes mamíferos chamados "popomotos".




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