Quero falar da vida por trás dos motores
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Quero falar da vida por trás dos motores

Nesta entrevista, o jornalista e fotógrafo, José Caetano, relata como surgiu o Portal Gasolina, como realização de um projeto que ele tem trabalhado há décadas, e que conseguiu realizar só em 2020, depois de um momento de inspiração em um evento em Curitiba, além de falar sobre como os motores e, especialmente as motos, se tornaram uma paixão em sua vida.


José Caetano nasceu nos "gloriosos anos 70", como ele gosta de dizer, mais especificamente em 1977, é jornalista e fotógrafo, foi CEO da agência de notícias Zenit, em Roma, trabalhou com o Papa Bento XVI na Santa Sé (como diria Raul: "ai, que luxo, meu bem!"). Logo que saiu da agência, fez fotos para diversas revistas, especialmente de moda e comportamento e hoje ainda trabalha como articulista freelancer para jornais e sites.


É casado há 20 anos, pai de duas meninas e gosta de Coca Cola Zero, Jack Daniel's, Charuto e Cachimbo. Já teve uma Ford Ranger, um Lada Laika SW, um Uno Mille e um Passat TS, mas hoje só tem duas encrencas de duas rodas em sua garagem e compartilha o carro da mulher quando precisa.


Como surgiu o Portal Gasolina?


o Portal Gasolina, ele é uma é a realização de um projeto que eu tenho já há muitos anos, na verdade, desde dos anos 90, por aí... que era ter uma revista, lançar uma revista.


E, então, por que uma revista? Porque eu sempre gostei do jornalismo de revista, sempre curti revista. Desde criança me lembro de ser um ávido devorador de revistas. A revista é diferente do jornal diário, de uma agência de notícias...


José Caetano, jornalista e fotógrafo, em preto e branco

O jornal e as agências de notícias buscam a Hot News, buscam aquela notícia diária. Então, eles sempre estão correndo atrás do fato, um fato que está acontecendo, independente do jornal ou da agência de notícias buscarem.


A revista, não. A revista pode se dar liberdade, pela periodicidade dela, pelo formato de matéria... ela pode se dar ao luxo de fazer sua própria pauta


Então, as revistas geralmente trazem coisas interessantes que acabam por sanar aquela sede que a gente tem de conhecimento, de busca, né?! Porque o ser humano é um buscador, ele está sempre buscando. Pelo menos um ser humano normal, ele está sempre buscando, buscando algo, buscando conhecimento, buscando coisas... e a revista tem essa liberdade de pauta de sempre estar atrás de algo interessante.


Então, eu sempre tive isso em mente. Quando eu saí da banca de Direito para uma redação de agência de notícias, ou seja, virei jornalista, a ideia da revista começou a se concretizar, pelo menos o planejamento.


José Caetano, jornalista e fotógrafo, em preto e branco

Depois, em 2011ou 2012, quando deixo de trabalhar em agência de notícias e começo a trabalhar mais exclusivamente como fotógrafo, fotojornalista, especialmente fazendo trabalhos para revistas, como Harper's Bazaar, por exemplo, comecei a conviver dentro da redação de revistas.


Então, a ideia de lançar uma revista começou a vir muito forte e eu quis fazer uma. Quis fazer isso até de maneira, meio que sozinho, mas é praticamente impossível você lançar uma revista sozinho.


Mas pelo menos o início existiu. Até tinha uma revista que eu iria lançar que se chamava Pimenta e ela tinha um subtítulo, que era "no dos outros arde". E tinha um asterisco que lá embaixo dizia assim: "no olho", que significava "no olho dos outros arde".


Mas tinha essa brincadeira que já seria um pré Portal Gasolina, porque seria uma revista de comportamento e ali eu já estava começando a me embrenhar por esse 

universo dos motores, especialmente das Harley Davidson, dessa cultura mais... não underground... mas uma cultura mais diferente daquele mainstream da TV e do que rolava por aí.


Então, em 2019, um ano antes da pandemia, eu troquei a minha Harley, a Dyna, pela Street Glide, e a gente estava na Vale Wash, com meus amigos Matheus e Franzoni, e a gente teve a brilhante ideia de, naquela semana, ir para Curitiba, estreando a moto que eu tinha acabado de comprar, para o evento BMS.


Quando eu cheguei nesse evento lá em Curitiba, dei de cara com um universo que eu gostava muito, esse universo dos motores e lá eu tive aquele momento Eureka, aquele momento que transforma a pessoa comum em alguém com um projeto diante de si


O BMS foi para mim o Turning Point para que desse início ao Portal Gasolina e, realmente, poucos meses depois do BMS, surge o Portal Gasolina. Aliás, surgiu no dia 1º de abril de 2020 que foi quando nosso Instagram foi inaugurado.


Por que motores?


Eu não sou muito ligado na questão técnica dos motores, não me interesso muito pela questão técnica dos motores, mas os motores foram uma invenção da humanidade muito legal.


E como eu parti para me interessar por motores? Como que eu comecei a ser interessado por motores, e então, a revista tem esse, vamos dizer assim, esse tema principal? Essa desculpa para pauta?


Eu tinha, sei lá, de 13 para 14 anos, e o pai de um amigo comprou uma Mobylette, e ele me deixou dar uma volta. Eu andava muito de bicicleta e quando peguei a Mobylette para dar uma volta eu tive uma verdadeira epifania... parecia que eu podia voar.


Eu tinha um equipamento motorizado que, com poucos movimentos, me levava para onde eu quisesse. Você imagina, assim, um adolescente, de repente, que andava de bicicleta para baixo e para cima, pegar um equipamento motorizado que o empurrava.


Você mexia um pouco a sua mão e aquilo lhe levava, e lhe levava em alta velocidade – quer dizer, para uma Mobylette. Mas, para quem andava de bicicleta os altíssimos 60 por hora, eram algo muito rápido, né?!


E aquilo foi realmente uma epifania, uma sensação que eu tenho até hoje quando eu subo nas motos em ando. Óbvio que, depois da Mobylette, vieram as motos e, depois, 

o carro e essa sensação de que você, com pouco movimento e com um equipamento, que é o motor, você pode ir para qualquer lugar...


José Caetano, jornalista e fotógrafo, em preto e branco

Na verdade, se a gente pensar no que os motores fizeram para a humanidade, a gente saiu do nosso planeta com motores. Então, por isso os motores.


Não é porque é o motor em si, não é porque a técnica... ah, é o motor a diesel, assim... ou motor V12... Não! Não é isso que eu quero focar no Portal Gasolina, mas é aquilo que os motores fazem pelo homem ou pela mulher hoje em dia.


Não é isso que eu quero focar no Portal Gasolina, mas é aquilo que os motores fazem pelo homem ou pela mulher hoje em dia.

Então, o Portal Gasolina fala muito mais de vida ligada aos motores do 

que especificamente dos motores.


Ainda que a gente tenha espaço para questões técnicas. Mas, é óbvio 

que existe revistas e publicações técnicas em relação a motores que têm muito mais competência do que a gente, mas, a gente trabalha, a gente busca...


A minha ideia, a minha linha editorial no Portal Gasolina é falar sobre a vida que está atrás dos motores. Porque eu acho que os motores foram uma invenção maravilhosa que a humanidade fez.


Se você quer subir a Cordilheira dos Andes, você pode demorar meses fazendo isso a pé, ou você pode cortar ela com uma moto, por exemplo, no mesmo dia. Num dia você sobe de um lado e termina no outro da Cordilheira dos Andes


Isso é muito interessante! Ah, eu quero acampar no Pico do Diamante. Beleza! Eu subo na minha Royal Enfield Himalayan e vou até lá. Ela me leva lá sem que eu precise gastar um dia. Na verdade em minutos eu chego, eu venho, transponho uma barreira de 1800 metros


Por que eu tenho uma preferência inegável por motos?


Tenho, tenho, sim. Eu me sinto melhor pilotando motos do que dirigindo carro.


Não, que eu não goste de carro. Eu gosto de carro, principalmente carro americano dos anos 70, os muscle car... Plymouth.... Impala... esses carros são muito legais!


E carros italianos. Eu gosto muito de carro italiano. Tanto os super carros: Lamborghini, Ferrari, Maserati, como Fiat, por exemplo. Eu gosto muito dos Fiat. São carros legais demais... Lancia também...


Não gosto muito dos compactos, porque eu também não caibo num carro compacto, mas eu gosto de carro eu acho que os italianos são fenomenais em produzir veículos. Eu acho que eles fazem uns carros muito legais. Mesmo os carros mais esquisitões da Fiat eu gosto... Fiat Multipla...


O Fiat Multipla é maravilhoso! É uma van... sei lá... uma minivan... um carro cabulosíssimo, mas eu acho legal demais.


José Caetano, jornalista e fotógrafo, em preto e branco

Então, enfim, eu gosto de carro, mas, moto? Moto vem lá daquele momento epifânico que eu tive na Mobylette. A sensação que eu tive de que eu realmente tinha asas e podia ir para qualquer lugar do mundo naquele objeto de duas rodas motorizado.


Essa sensação me persegue até hoje quando eu subo na moto, na Harley, na Royal... qualquer moto que eu suba nela, eu tenho essa sensação, porque a moto é diferente do carro.


Você pode fazer uma experiência e eu não tenho nem como falar muito. Quando você faz uma viagem de moto parece que você está dentro da paisagem. Você não tem uma gaiola te cercando e que te impede de ver.


Eu, como não sou tão pequeno, quando dirijo um carro, aquela barra que tem aqui no pára-brisa... ela me tampa um ângulo da visão, então, a moto, não. Na moto, se eu viro 

a cabeça eu enxergo, vejo todos os lados, a gente sente o cheiro, então, não tem muito como explicar. 


O que eu posso te dizer é: experimente! Faça uma viagem de carro e ,depois, faça ela, de novo, de moto e daí você vai entender, exatamente, porque que eu tenho uma preferência por motos.


É um pouco disso, não tem muito o porquê que eu tenho a preferência por moto. Eu gosto de moto. Eu prefiro moto a usar carro, mas também gosto de avião, gosto de helicóptero, gosto de barco, gosto de caminhão, gosto de caminhonete... 


Aliás, veículos de quatro rodas, para mim, as caminhonete são os The Best. São os que eu mais curto, mas eu tenho, realmente, uma preferência por moto.


Mas o Portal Gasolina fala de carro... carro de corrida, um monte de coisas...


Como a fotografia entrou na minha vida?


Não sei, mas eu era muito criança quando eu comecei a gostar de fotografia. Como falei já antes, eu sempre fui um ávido devorador de revistas, então, a revista tem muita foto e eu sempre gostei de foto, mas tem um momento que foi foi o divisor de 

águas da fotografia na minha vida.


Meu pai era assinante da Geográfica Nacional, que era a versão brasileira da National Geographic.


(Não sei o porquê que naquela época que eles achava que o brasileiro não saberia comprar a revista se ela tivesse nome em inglês, mas, enfim, era a Geográfica Nacional)


Chegou em casa a Geográfica Nacional com a capa da Menina Afegã, aquela foto do Steve McCurry, daquela menina afegã de olhos verdes e tal... com aquele semblante triste, um semblante sofrido já. Uma menina que, provavelmente, tinha a minha idade porque era uma criança mesmo.


A Menina Afegã é o nome da foto. Ela é super famosa na National Geographic, então, acho que todo mundo sabe de qual foto eu estou falando.


Mas, para mim, para uma criança que estava vendo aquela foto, era intrigante e eu nem lembro da matéria, o que era, mas acho que era da invasão soviética no Afeganistão... era uma coisa assim...


O Afeganistão sempre foi um país muito sofrido com guerras, né?! Mas aquela capa me marcou muito, e começou a me intrigar muito.


José Caetano, jornalista e fotógrafo, em preto e branco

Eu lembro daquela revista, um mês circulando ali, e aquele retrato olhava para mim. Eu acho que era, mais ou menos, a contemplação da Monalisa.


Acho que quando você olha a Monalisa do Da Vinci – na verdade, o nome é Gioconda – é um semblante e você não sabe se está sorrindo, se não está sorrindo, né?! É um semblante que sempre é misterioso, sempre tem um mistério, e aquela menina afegã – eu sempre falo isso, que, para mim, ela é a Monalisa da fotografia – é um retrato de uma menina misteriosa, que você não sabe qual é a emoção que ela está passando, mas ela te passa uma emoção muito forte.


A partir daquele retrato, daquela daquela revista, e das outras fotos... a National Geographic, para mim, sempre foi uma uma revista que me ajudou muito, me incentivou muito na fotografia. As fotos da National Geographic são muito bem feitas.


Sempre comprei essa revista... até hoje ainda tenho National Geographic, tenho livros com as melhores fotos da National Geographic...


Mas, meu pai gostava de fotos. Ele não era fotógrafo, era funcionário público do extinto DNER – cuidava de estradas de rodagem – e tinha várias câmeras em casa. Eu lembro de Polaroid... e tinha uma camerinha, que é a Kodak Instamatic.


E a câmera tinha uma incrível regulagem. Ela não tinha foco e era uma câmera com uma abertura muito pequena, então ela tinha uma profundidade de campo muito grande e tudo estava no foco para ela, ela focava tudo.


E você tinha uma regulagem de objetiva que era assim: uma abertura para dia  ensolarado e uma abertura para dia nublado. E o dia não podia ser nublado, nubladão, não. Ele tinha que ser um sol com nuvens, porque se fosse um nubladão a foto saía escura. Os filmes não tinham um ISO tão alto.


Então, eu ficava trocando a minha mesada. Ao invés de receber mesada, eu pedia sempre o filme e a revelação do filme do mês anterior, das 12 poses anteriores e, de 12 poses, às vezes, uma foto saia boa, às vezes, nenhuma.


Mas eu insisti nisso e fui indo, e à medida que eu fui crescendo e fui entendendo as técnicas de fotografia... sempre fui muito curioso em relação à fotografia e conseguia entender de composição, porque porque eu via muitas fotos e revista...


José Caetano, jornalista e fotógrafo, em preto e branco

Então, intuitivamente eu pegava essa coisa da composição e fui melhorando, fui comprando outras câmeras e, daí, foi melhorando minha fotografia e, quando eu fui para faculdade de Direito, lá nos anos 90, eu já fotografava direto. Já fotografava tudo que tinha para fotografar.


Quando eu virei jornalista, a fotografia entra na minha vida de maneira profissional.


Junto com o jornalismo, você vira fotojornalista e então você começa a fazer muitas fotos de maneira profissional e, entraram, também, das câmeras digitais. Então, ficou muito mais fácil você fazer um monte de foto, porque você não estava limitado a 12, 24 e 36, mas você tinha o que o limite do seu cartão de memória permitia.


Assim, foto para mim sempre foi uma maneira de pausar a vida, porque a vida é muito rápida e, às vezes eu quero ver aquilo, eu quero contemplar aquilo, mas não dá, porque você está passando, você está correndo com a vida.


A foto faz isso. Ela te dá essa pausa e você consegue contemplar essa cena depois, para sempre. É como se eu tivesse um departamento de memória e que fosse mais fácil o acesso.


Fotografia é isso e por isso que eu gosto de fotografia. Eu me sinto muito bem fotografando.


Fotos: Manuela Caetano

Filmagem para YouTube: Myriam Caetano

Edição e Produção: Portal Gasolina

 

Assista à entrevista em nosso canal do YouTube:





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